Em evento, juiz afirma que diálogo entre Dilma e Lula tinha trechos 'não republicanos'
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Juiz Sergio Moro participa de evento organizado pela revista Veja, em São Paulo - Marcos Alves / Agência O Globo |
SÃO PAULO — O juiz Sergio Moro afirmou nesta segunda-feira que sofreu "ataques sujos" durante a condução dos processos da Lava-Jato. Durante uma entrevista pública promovida pela revista "Veja", o magistrado não citou nomes nem exemplos desses ataques, que mencionou ao ser indagado sobre o "preço mais alto que pagou por conduzir a operação".
— Um lado negativo que,
particularmente, eu não esperava foram alguns ataques sujos por conta
provavelmente desses processos atuais envolverem crimes praticados por pessoas
na política — disse Moro.
Na pergunta, a entrevistadora citou os
ataques contra a mulher e os amigos do juiz. Para Moro, os ataques fazem parte
de estratégia dos investigados de confundir a opinião pública.
— Existe essa tentativa de
diversionismo. Em vez de discutirem as responsabilidades, atacam as pessoas
responsáveis pelo processo, pela acusação, pelo julgamento. Mas eu estou
absolutamente tranquilo com as coisas que eu fiz.
O magistrado descartou, porém, tomar
alguma atitude contra os que o atacam:
— Não se deve atirar uma pedra em todo
cachorro que ladra. Não vou ficar me incomodado com mentiras e vou continuar
fazendo o meu trabalho.
Ainda mesma resposta, Moro se queixou
do fato de ser obrigado a andar com segurança porque perde uma privacidade, mas
tentou se mostrar conformado com a situação:
— Quando existe uma situação concreta
de risco, tem que tomar medidas de segurança.
Ao longo da entrevista, Moro defendeu a
divulgação da conversa telefônica entre a então
presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula,
em março do ano passado, e disse que o diálogo tem trechos "não
republicanos". Na conversa gravada com autorização do magistrado, Dilma diz a Lula
que mandará um assessor entregar-lhe o seu termo de posse como ministro da
Casa Civil, que só deveria ser usado "em caso de necessidade". A
nomeação garantiria ao ex-presidente o foro privilegiado e o tiraria do alcance
de Moro.
— Na minha opinião, eu fiz exatamente o
que a lei exigia e o que era necessário. Acho que o conteúdo daquele diálogo
deveria vir a público porque não era exatamente conversas republicanas. O
problema não foi tanto a divulgação, mas o conteúdo do diálogo — afirmou.
A divulgação da conversa entre os
petistas foi um dos fatos mais polêmicos da Lava-Jato. Alguns juristas
defendiam que Moro, por ser um juiz de primeira instância, não teria poder para
divulgar conversas de um presidente da República. O grampo autorizado pelo
magistrado não era sobre o telefone de Dilma, e sim do utilizado por Lula.
— Essas coisas têm que vir a público.
Os governantes têm responsabilidade sobre os governados e devem agir com
absoluta transparência — argumentou Moro, que novamente se recusou a responder
se determinará a prisão de Lula.
PRISÃO DE LULA
Em outro trecho, o magistrado disse que
a sua "maior frustração" em quase quatro anos à frente da Lava-Jato
foi ver que os políticos não tomaram nenhuma medida para ajudar no combate à
corrupção.
— Eu tinha uma expectativa de que,
diante da magnitude desse problema, o tratamento não ficasse restrito às cortes
de Justiça. Para superação desse nível de corrupção, seriam necessárias
reformas por parte das nossas lideranças políticas. Deveriam vir da nossa
liderança política iniciativas para eliminação do foro privilegiado e do
loteamento de cargos públicos. Mas o que se verifica é quase uma completa
omissão em promover mudanças dessa espécie.
Também citou como possível frustração o
risco de as investigações serem enterradas.
— Minha maior frustração seria tudo o
que fizermos não ir adiante.
Para Moro, a corrupção "ainda é
grande" no país.
— Infelizmente não foi possível ainda
realizar todo o trabalho.
Segundo juiz, é importante no momento
que as investigações e ações da Lava-Jato que estão no Supremo Tribunal Federal
(STF) também sejam finalizadas. Em entrevista coletiva depois do evento, Moro
disse novamente que o país precisa de um plano de combate à corrupção, no molde
do Real.
—
O Plano Real é, hoje visto por todos os espectros políticos, como um plano bem-sucedido
de enfrentamento da hiperinflação. A meu ver, o que nós precisamos é de uma
espécie de Plano Real contra a corrupção.
De
acordo com o juiz, as mudanças com relação ao foro privilegiado deveriam ser
mais amplas dos que as discutidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
—
Talvez eliminar por completo o foro privilegiado, inclusive para magistrados.
Eu abro mão do meu foro.
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