O Pastor
Belga Malinois é cada vez mais procurado para auxiliar polícias e participar de
competições de adestramento avançado
O Pastor Belga Malinois possui marcante habilidade
na proteção, detecção, busca e salvamento e em funções que exigem alta
treinabilidade e agilidade e por isso vem conquistando espaço crescente como
cão de elite de polícias e exércitos e para competições de alta
adestrabilidade.
Noticiários e documentários que mostram o Malinois
como um dos cães preferidos nos Estados Unidos pelo Serviço Secreto e pelas
Forças Armadas, bem como, em Israel, pelas Forças de Defesa, entre outras
organizações militares e policiais, têm atraído também o interesse do público
em geral. Ficou famoso o Malinois Cairo que integrava a tropa de elite Seals,
da Marinha norte-americana, por ocasião da captura e morte do terrorista Osama
Bin Laden. A raça também está entre as preferidas pelos profissionais de
adestramento avançado em países como Bélgica, Alemanha, Holanda, Canadá,
Austrália e China. “Certamente fatos como esses contribuem para o aumento
generalizado do interesse pelo Malinois”, opina Marcel Piacentini Abrantes
adestrador e criador, do Canil K9 – Cão Educado, de Santa Isabel, SP.
No Brasil, o reflexo da maior notoriedade da raça
pode ser medido no ranking de popularidade da Confederação Brasileira de
Cinofilia (CBKC). O Malinois saltou da 33ª posição, em 2008, para a 18ª, em 2102,
com 1.227 exemplares registrados, mais do dobro que os 458 registros de quatro
anos antes.
No exterior também há casos de expansão da raça. O
desempenho mais notável acontece na França onde, em 2009, o Malinois ingressou
no seleto grupo das dez raças caninas mais criadas. E, em 2011, alcançou a 5ª
posição, com cerca de 6.500 registros, quantidade mantida em 2012. No American
Kennel Club (AKC), dos Estados Unidos, a raça evoluiu da 96ª posição, em 2003,
para a 60ª, em 2013.
Parecidos, mas não iguais
O Pastor Belga Malinois é a variedade mais criada
das quatro do Pastor Belga ou Chien de Berger Belge, como a raça é chamada no
país de origem, a Bélgica. O padrão oficial é o mesmo para as quatro
variedades, diferenciando-as exclusivamente quanto ao tipo e à cor da pelagem:
longa, no Tervueren e Groenendael; curta, no Malinois, e dura e levemente
encaracolada no Laekenois, que é mundialmente o mais raro dos quatro e não tem
registros no Brasil.
O Pastor Belga Groenendael é comumente confundido
com Pastor Alemão preto, por ter pelagem longa e negra. Os demais são
exclusivamente fulvo-encarvoados (pelos bege com ponta preta), sendo que no
Tervueren é permitido também o cinza-encarvoado.
Origem das variedades
No século 18, ancestrais do atual Pastor Belga eram
utilizados para pastorear, vigiar e conduzir rebanhos de ovelhas e existiam com
grande variedades de tipos e pelagem. Quando não estavam no “trabalho”, esses
cães tomavam conta da casa e da família. No entanto, a raça como conhecemos
hoje surgiu apenas no século 19, com o objetivo de ser um cão de proteção. A
iniciativa partiu de Adolphe Reul, professor da Escola de Medicina Veterinária
de Cureghem, na Bélgica. Junto com um grupo de cinófilos, ele selecionou, em
1897, na cidade de Cureghem, 117 exemplares com características em comum, como
porte médio, olhos marrom-escuros, orelhas pequenas, eretas e triangulares e
cauda longa, mas que diferiam quanto à textura, comprimento e cor da pelagem.
No mesmo ano, foi fundado o Clube do Cão do Pastor Belga e, no ano seguinte,
foi redigido o padrão oficial da raça, primeiramente com três variedades de
pelagem e sem distinção de cores: pelo longo, pelo duro e pelo curto.
Em 1901, os Pastores Belgas foram reconhecidos pela
entidade máxima da cinofilia belga, a Société Royale de Saint-Hubert
(L.O.S.H.). Desde aquela época, o cruzamento entre as variedades é proibido,
norma seguida tanto pela Federação Cinológica Internacional (FCI) quanto pelo
AKC, sendo que esse último reconhece cada variedade como raça distinta, exceto o
Laekenois, ainda não reconhecido.
Qualidades do cão
O Malinois é vigilante e ativo, transborda
vitalidade e está sempre pronto para a ação. A criadora Morgane Tissier, do
canil Forge aux Sept Flammes, na França, descreve a raça como desenvolvida para
o trabalho em situações que exijam habilidade extrema. “É um cão determinado,
incansável, enérgico, rústico e resistente ao estresse”, detalha. Aliás, ela
menciona que durante as duas Grandes Guerras, ao contrário da maioria das raças
caninas que foram quase dizimadas, os Pastores Belgas foram preservados por sua
utilidade na guerra como mensageiros, patrulheiros de fronteiras e auxiliares
da Cruz Vermelha.
Um dos atributos do Malinois que mais admira os
policiais é a agilidade e a capacidade para imobilizar sem causar grandes
ferimentos. Ao atacar, esse cão morde e solta repetidamente, ficando menos
exposto ao agressor, pois não permanece agarrado a ele.
Entre as quatro variedades de Pastor Belga, o
Malinois é a que possui maior instinto natural para atacar. “Inteligência,
agilidade, rapidez e coragem são características que mais se destacam nele”,
complementa Abrantes, que além de criador, também é membro da Associação
Brasileira de Mondioring, modalidade esportiva que testa a habilidade do cão
para proteger a si próprio e a seu condutor, mesmo em ambientes com muitas
distrações. “O Malinois se destaca por ser excelente para o trabalho de
obediência, faro, saltos e proteção”, explica. “Em competições de mondioring e
no trabalho de segurança não há quem o supere.”
No trabalho
Cão de guerra: Pastor Belga Malinois Cairo,
integrante do esquadrão que capturou o terrorista Osama Bin Laden
Sociabilidade com estranhos
Visitas na presença do dono são bem aceitas.
“Depois de recepcionada cordialmente, a pessoa pode circular pela casa sem
problemas”, comenta Abrantes. “Mas o estranho que entrar na casa sem ter sido
recepcionado será atacado”, acrescenta. Um dos pontos fortes do Malinois
adestrado é fazer a defesa pessoal e da casa sob comando.
Esportista nato
O Malinois adora correr por horas seguidas. Precisa
de ambiente espaçoso ou passeios de duas a três vezes ao dia. Ágil, com físico
ideal para suportar longas caminhadas e com grande vitalidade e alto grau de
obediência e devoção, o Malinois é um esportista nato, especialmente dotado
para provas de adestramento avançado em ataque e defesa e que testam também
saltos extremos, como o mondioring e o schutzhund além de outras correlatas,
como o ring na França e Bélgica e o KNPV na Holanda. A raça também apresenta
bom desempenho em modalidades como agility e flyball.
Dia a dia com um Malinois
Depois de ver a atuação do Malinois nas forças
militares norte-americanas pela televisão, Matheus Abrahão, de 11 anos, que
vive em São Paulo, quis ter um exemplar da raça. A opção causou certo receio no
pai dele, o advogado Adriano Abrahão, que além de um Weimaraner e cinco SRDs
teve dois Filas Brasileiros, cães que, como o Malinois, precisam de dono com
pulso firme.
“Fiquei apreensivo, pois sabia que o Malinois não é
para donos inexperientes”, comenta Adriano. Mesmo assim, ele atendeu ao pedido
de Matheus. “Fada chegou filhote e sempre que testava liderança tentávamos
fazê-la perceber que não era ela quem estava no comando mas, mesmo assim, às
vezes ela se recusava a obedecer ou atendia sem convicção. Tinha também energia
incrível. Busquei a orientação do treinador Marcel Piacentini Abrantes e
Matheus e eu pusemos em prática um programa que combina caminhadas diárias com
exercícios de mondioring, totalizando cerca de três horas diárias de atividades.
A cada três meses o programa é revisado por Abrantes, quando levamos Fada ao
canil dele para ser avaliada. Com o treino, Matheus aprendeu a se impor
definitivamente sobre ela e só encerra uma sessão depois de ter sido
completamente obedecido”, relata Adriano.
Fada se tornou parte da vida da família Abrahão,
mostrando-se amorosa e obediente, e isso motivou a aquisição de um segundo
Malinois, Peper. Agora Fada tem quase 2 anos e Peper, que está com 8 meses,
segue rotina semelhante. Assim como ela, se revelou amoroso com a família, ao
mesmo tempo em que já mostra certa intolerância a estranhos.
“Encontramos na raça todas as qualidades que
desejamos – são bons na guarda, companheiros que gostam de passeios longos e
que não exigem muitos cuidados com pelagem e saúde”, relata Adriano. “Aonde
vamos, levamos os dois conosco.” Ele acrescenta que Fada e Peper são cães
discretos, que sempre buscam a proximidade da família e gostam de estar junto
sem ser pegajosos. “O mais marcante para mim é a capacidade desses cães para aprender.”
Quanto aos pontos negativos da raça, o advogado
cita apenas um: “Latem muito e isso, às vezes, causa alguma chateação”. Para
quem pretende adquirir um Malinois, ele adverte: “Não é cão para sedentários
nem para quem não sabe se impor – é preciso exercitá-lo sempre e saber definir
claramente a subordinação dele.”
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