Ex-primeira-dama estava internada havia 11 dias no Hospital Sírio-Libanês após ter sofrido um acidente vascular cerebral por causa de um pico de pressão.
Por Adriana
Dias Lopes e Eduardo Gonçalves
3 fev 2017, 19h29 -
Atualizado em 3 fev 2017, 19h49
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado da esposa, Marisa Letícia Lula da Silva, em 2009 (Ricardo Stuckert/Divulgação |
A ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da
Silva, mulher
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, morreu nesta sexta-feira, aos
66 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internada desde o
último dia 24, em decorrência das complicações provocadas por um acidente
vascular cerebral (AVC).
Marisa foi internada após se sentir mal em seu apartamento,
em São Bernardo do Campo (SP), devido a um pico de pressão. Socorrida, desmaiou
no elevador antes de ser levada ao Hospital Assunção, na mesma cidade, onde foi
detectada a gravidade da situação. Um aneurisma (má-formação de um
vaso sanguíneo) no cérebro, que fora diagnosticado há mais de dez anos, se
rompeu em decorrência do quadro hipertensivo, provocando um AVC hemorrágico.
De ambulância, ela foi transferida para
o Sírio-Libanês, onde passou por cirurgia de emergência para estancar o sangramento. Desde
então, estava na UTI, sob supervisão da equipe liderada pelo diretor da divisão
de cardiologia, Roberto Kalil Filho. No dia seguinte, foi submetida a avaliação
tomográfica de crânio para controle de sangramento cerebral e recebeu um cateter ventricular para monitoração da pressão
intracraniana. Ficou sempre sedada, em coma induzido, com monitoramento
neurológico intensivo.
Na última terça-feira, ela teve a sedação suspensa.
A expectativa era que ela acordasse em dois dias, quando os médicos saberiam o
seu estado de saúde real. Na quarta-feira, no entanto, o quadro piorou — a pressão intracraniana
aumentou, assim como a inflamação decorrente da hemorragia. Ela teve vasoespasmos (contração de
vasos sanguíneos) e anisocoria (dilatação das pupilas) num sinal de que
a circulação sanguínea no cérebro era mínima. Na quinta-feira, o hospital
informou que Marisa não tinha mais fluxo cerebral e a família autorizou o
transplante de órgãos.
Os médicos, então, realizaram os procedimentos previstos no conselho de medicina para comprovar a ocorrência de
morte cerebral, que foi confirmada às 18h57 desta sexta-feira.
A piora no quadro de Marisa levou uma multidão de
aliados e rivais políticos de Lula para o Hospital-Sírio Libanês. Na
quinta-feira, uma comitiva formada pelo presidente Michel Temer, o
ex-presidente José Sarney (PMDB), o chanceler José Serra (PSDB), o ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB),
entre outros políticos, voou direto de Brasília para prestar solidariedade ao
petista – foi o primeiro encontro de Temer com o petista desde o impeachment de
Dilma Rousseff (PT). O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também apareceu para visitar
Lula, na primeira vez que eles se encontraram desde dezembro de 2013, quando
foram juntos ao funeral do líder sul-africano Nelson Mandela. Nesta
sexta-feira, a ex-presidente Dilma também foi ao hospital.
A vida com Lula
Nascida em 7 de abril de 1950 em São Bernardo do
Campo, no seio de uma humilde família de origem italiana (o que lhe rendeu
posteriormente a cidadania do país europeu), Marisa está na vida de
Lula desde 1973. Com
o petista, teve três filhos – Fábio Luís, Luis Cláudio e Sandro Luís. Lula também registrou o enteado
Marcos, filho de Marisa. A ex-primeira-dama tinha ainda uma enteada, Lurian,
filha de Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula.
Marisa é descendente de italianos que chegaram ao Brasil no século
19. Seus pais, Antonio João Casa e Regina Rocco Casa, moravam e ganhavam a vida
na roça, em São Bernardo, onde a ex-primeira dama nasceu. Aos 5 anos, com
os pais, se mudou para a cidade. Quatro anos depois, começou a trabalhar como
babá de um parente do pintor Candido Portinari. Aos 14, passou a atuar
como embrulhadora – primeiro na indústria de drops Dulcora; depois, em uma
fábrica de bombons e ovos de Páscoa.
Segundo o
livro “A História de Lula, o Filho do Brasil”, da jornalista Denise Paraná
(Editora Objetiva), ela, adolescente, se divertia com as amigas passeando na
praça Lauro Gomes e na avenida Marechal Deodoro, quando conheceu Marcos dos
Santos, com quem namorou e se casou seis meses depois, em 1970, ambos com 19
anos de idade. Marisa engravidou já na lua-de-mel. Aos seis meses de
gestação, veio o primeiro drama. O marido, que fazia bicos como taxista para
complementar a renda de metalúrgico, foi morto por assaltantes. O restante da
gravidez foi conturbado, Marisa teve de ser internada e tomou medicamentos para
evitar problemas com o bebê. O filho nasceu saudável e ganhou o nome do pai.
Viúva, Marisa foi ao Sindicato dos Metalúrgicos
carimbar um documento, como exigia a legislação, para receber a pensão. Ali
conheceu Lula, então secretário da entidade, que se encantou com a viúva, com
quem passou a namorar. Sete meses depois, estavam casados, em cerimônia
simples, apenas com registro civil e almoço para dona Lindu, mãe de Lula, os
pais de Marisa, o filho Marcos e padrinhos. De novo, Marisa engravidou na
lua-de-mel, em Campos do Jordão. Nove meses e nove dias depois da festa de
casamento, nascia Fábio Luís, hoje conhecido como Lulinha.
Com o crescente envolvimento de Lula com
o sindicalismo, Marisa
também participou de vários atos na região do ABC durante a ditadura militar e
ajudou a atrair mulheres para o movimento sindical. Em 1980, chegou a ser
seguida por policiais em Veraneios, que vigiavam Lula e a família o tempo todo.
Quando o marido foi preso, naquele ano, organizou passeatas pela sua
libertação. Chegou a fazer um curso político na Pastoral Operária e fundou um
núcleo de mulheres petistas no Jardim Lavínia, em São Bernardo do Campo, mas
não foi além. Lula reclamava que tinha de cuidar das tarefas domésticas e que a
mulher estava chegando tarde demais em casa.
A primeira-dama
Já com o marido na Presidência da República, Marisa
foi alvo de uma polêmica ao “desenhar” a estrela do PT no jardim do Palácio do Alvorada.
Plantado em 2004, o símbolo petista era formado por sálvias vermelhas.
Ao longo dos oito anos de mandato do marido, as aparições
de Marisa foram curtas e discretas. Conhecida por ser fiel conselheira de Lula, a
ex-primeira-dama atuou com discrição durante os dois mandatos e ocupava um
gabinete ao lado do presidencial.
Durante a campanha de Lula para a
reeleição, em 2006, Marisa
teve mais destaque. Recebia carinhos públicos do marido, ficava
à frente dos palanques, acenava aos eleitores e distribuía sorrisos. Sua
súbita aparição, com figurino escolhido por uma especialista e mudanças
estéticas, foi uma estratégia de marketing eleitoral.
Lava Jato
As últimas menções a Marisa na imprensa estão
relacionadas às suspeitas envolvendo Lula e empreiteiras investigadas na Operação
Lava Jato. Ela
é ré em duas ações penais. Na primeira, é acusada de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro por uma reforma feita pela construtora OAS em um tríplex
do Guarujá, litoral
de São Paulo, que supostamente pertenceria a ela e a Lula. A segunda diz
respeito às relações do casal com a Odebrecht – segundo a procuradoria, a
empreiteira teria beneficiado o petista em dois momentos: na compra de um
terreno para o Instituto Lula (que nunca foi usado para isso) e na aquisição de
um segundo apartamento, contíguo à cobertura onde o casal vive, em São Bernardo
do Campo.
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