Na tarde de 11/07/1973, um acidente na rota entre o Rio de
Janeiro e Paris chocou o mundo. O Voo Varig RG-820 partiu do Aeroporto Internacional
de Galeão, no Rio com destino a Londres, Inglaterra e uma escala no Aeroporto
de Orly, em Paris, França. Faltando apenas um minuto para atingir a pista do
Aeroporto de Orly, o Boeing 707 do voo RG 820 da Varig fez um pouso forçado em
função de um incêndio dentro da aeronave.
A causa mais provável foi uma ponta de cigarro acesa, que
teria sido jogada na lixeira do toalete da aeronave no orifício coletor de
papéis no toalete, poucos minutos antes da chegada à escala em Paris. O avião
já se encontrava em procedimentos de descida, com todos os passageiros em seus
assentos presos pelos cintos de segurança, quando uma fumaça densa e tóxica
começou a tomar conta da aeronave, provocando desmaios entre os passageiros.
Membros da tripulação tentaram conter o incêndio que
principiava no fundo do avião, na área dos banheiros, mas não conseguiram
encontrar uma maneira de apagá-lo. A aterrissagem de emergência foi feita pouco
mais de 1km da pista de Orly, num campo de cebolas da vila de
Saulx-les-Chartreux, ao sul de Paris. O incêndio, a fumaça e a aterrissagem
forçada resultaram em 123 mortes, com apenas onze sobreviventes (dez
tripulantes e um passageiro).
Os pilotos não conseguiam ver nada através da fumaça que
invadiu a cabine e perderam a comunicação com a torre de comando do aeroporto.
Quando a aeronave realizou o pouso de emergência, a maioria das pessoas a bordo
já havia morrido, intoxicada pela inalação da fumaça.
Apenas um passageiro sobreviveu — Ricardo Trajano, de 19
anos, que se recusou a atender a ordem dos comissários de ficar sentado preso
pelo cinto e pousou sentado no chão e agarrado na porta da cabine —, enquanto a
maior parte da tripulação deixou o avião pela saída de emergência da cabine do
piloto.
Ricardo foi retirado desmaiado e agonizando do avião, pelo
primeiro bombeiro francês que chegou ao local, Jean-Marc Veron, oito minutos
após o pouso forçado, que conseguiu abrir a porta principal do avião,
encontrando um corpo caído encostado nela. Parte do seu corpo estava queimado
porque após o pouso o teto do avião desabou em fogo sobre o interior da
aeronave.
Um ano após a tragédia, já recuperado depois de passar dois
meses internado no Hospital da Beneficência Portuguesa, no Rio de Janeiro,
transladado de maca de Paris num voo especial da Varig, Ricardo Trajano entrou
numa loja da Varig e dirigiu-se à surpresa atendente do balcão de passagens
dizendo: "No ano passado comprei uma passagem para Londres, mas o avião
caiu e eu não cheguei lá. Acho que tenho direito a outra." A passagem foi
emitida imediatamente.
Os sobreviventes escaparam com ferimentos, queimaduras e
fraturas pelo corpo, provocadas pelo pouso forçado no terreno irregular,
incluindo o 1º oficial Antônio Fuzimoto — responsável pelo comando nos momentos
finais e pelo pouso no campo, por completa impossibilidade de visão do
comandante Gilberto Araújo — com fratura exposta no braço.
Por sua perícia profissional em impedir que o Boeing 707 em
chamas caísse sobre os subúrbios de Paris, fazendo-o pousar num campo de
cebolas ao lado do vilarejo de Saulx-les-Chartreux, a alguns quilômetros da
cabeceira da pista do aeroporto, o comandante Gilberto foi condecorado pelo
Ministério dos Transportes da República da França — e considerado herói
nacional francês, apesar de brasileiro — e pelo governo brasileiro com a Ordem
do Mérito Aeronáutico, no grau de Cavaleiro.
Em 1979, sei anos depois da tragédia, o comandante Gilberto
Araújo da Silva, desapareceria enquanto comandava outro voo, de carga, sobre o
Oceano Pacífico, na rota Tóquio–Los Angeles–Rio de Janeiro. Como nenhum sinal
do avião jamais foi encontrado, esse acidente é até hoje um dos maiores
mistérios da aviação mundial.
Entre as vítimas fatais estavam personalidades, como o cantor
Agostinho dos Santos, a atriz e socialite Regina Lecléry, o iatista Jörg
Bruder, o senador Filinto Müller, então presidente do Senado Federal, e os
jornalistas Júlio Delamare e Antônio Carlos Scavone.
Após o desastre, a Federal Aviation Administration exigiu
medidas de segurança em todos os aviões, como a colocação de avisos proibindo o
fumo nos toaletes e a colocação de cigarros nos cestos de lixo, o anúncio aos
ocupantes de que é proibido fumar naquele local, instalação de cinzeiros em
determinados pontos da cabine e a realização de inspeções periódicas nos
toaletes. Posteriormente o fumo seria banido dos aviões.
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