Rarielly Virgínia Medeiros é
aluna do 4° ano do Curso Técnico Integrado em Mecânica do Campus Santa Cruz do
IFRN. Em 2016, ela foi selecionada como Jovem Embaixadora do Brasil nos EUA.
Para exercer a missão para a qual foi escolhida, passou 22 dias em diferentes
cidades americanas. Rarielly voltou para o Brasil neste domingo, 5 de
fevereiro, e contou para gente como foi a experiência.
Qual o período em que você esteve nos EUA e em quais cidades?
Antes de chegar nos Estados
Unidos, ficamos 5 dias em Brasília, fomos à embaixada americana participar de
uma entrevista para pegar o visto e conhecermos alguns pontos turísticos. Nos
outros dias, participamos de várias palestras que nos prepararam para o “choque
cultural” que estava a nossa espera. Todas as atividades foram realizadas na
casa Thomas Jefferson, em Brasília. Quase todas as noites, íamos a restaurantes
com o perfil americano, já para nos preparar para mudança do hábito alimentar.
Viajamos aos EUA na madrugada do dia 14 de janeiro e só voltei dia 5 de
fevereiro. Na verdade, ainda me sinto lá... Preciso voltar ao Brasil, a minha
realidade. Acho que ainda estou em êxtase.
Passei por várias cidades
americanas, começando por São Francisco/Califórnia, Lake Tahoe em Nevada,
Pensacola/Flórida, Nova Orleans/Louisiana, e, por último, em Washington DC.
Quais atividades desenvolveu lá?
Foram várias atividades, todas de
inclusão. Participei de trabalhos voluntários, como o banco de comidas, que é a
organização e distribuição de comida enlatada para as famílias de baixa renda –
onde as pessoas vão até a casa pegar suas caixas de alimento. Fui a uma casa
que acolhe pais de crianças que ficam internadas em um hospital próximo dali,
na verdade, acolhe as famílias dessas crianças. A casa é patrocinada pelo
McDonald's - Ronald McDonald House Charities of Northwest Florida - lá fizemos
kits de brinquedos para distribuir com as crianças que ficam na casa.
Participamos de vários workshops,
através dos quais, de fato, desenvolvíamos trabalhos, como mapas de conceito,
gráficos que possibilitam identificar e solucionar problemas da comunidade.
Cada jovem embaixador tem a responsabilidade de desenvolver um projeto de
inclusão para colocar em prática no Brasil.
Os dias eram bem cheios, repletos
de palestras, visitas a escolas, a universidade, fomos a pontos turísticos e em
alguns núcleos de inclusão como o ARC GATEWAY, que ajuda pessoas com
transtornos mentais/psiquiátricos, e um reformatório, onde foi possível fazer
uma apresentação sobre o Brasil/IFRN/NAPNE.
Como foi a experiência?
Incrível, inesquecível. Só em
falar já me emociono. Foi maravilhosa! Aprendemos bastante, não só sobre um
outro “mundo”, mas muito mais sobre conhecer a si mesmo, como ser um ser humano
melhor. Aqui no Brasil eu nunca saí sozinha, para onde vou é com os meus pais,
e de repente tive que me virar sozinha, tanto em Brasília como nos EUA. Aprendi
a cuidar de mim.
O que mais te marcou durante a viajem?
As amizades que construí, tanto
com brasileiros como com americanos, tudo que conheci, aprendi e vivenciei. Não
há o que mais marcou, tudo me marcou, não sou capaz de esquecer cada segundo
vivido nesse último mês, nunca esquecerei de nada. Todo dia era algo diferente,
nada se repetia, apesar de estarmos sempre no mesmo grupo, sempre conhecíamos
pessoas novas.
Posso dizer que uma coisa me
chamou muita atenção: fui a várias instituições que ajudam o próximo sem
interesse e sem fins lucrativos, bem diferente da realidade que vivencio aqui
em Santa Cruz. O único lugar que vi um pouco desse “humanismo” foi no Núcleo de
Atendimento a Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE) do IFRN.
Como foi o processo de seleção?
Cansativo, extenso, na verdade,
desesperador, conheci várias pessoas que já tinham passado por isso mais de uma
vez e não tinham conseguido passar, pessoas com mais “experiência” que eu e
estavam sendo reprovadas. Este ano foram quase 19 mil inscritos, então o
desafio foi gigantesco, e a cada etapa aprovada, ao invés de eu me tranquilizar
eu ficava mais nervosa e ainda mais ansiosa. Eu não acreditava que poderia. O
que me deu confiança, além da minha fé, porque eu rezava muito, muito mesmo,
foi principalmente o apoio que recebi do IFRN, especialmente o apoio de Andreza
Luna, a coordenadora do NAPNE, as diversas palavras de fé e encorajamento que
ela me dava me fizeram acreditar que eu poderia ser uma Jovem Embaixadora. Eu
tinha medo de comentar com as pessoas que eu estava na seleção, eu pensava que
elas me diriam palavras negativas que iriam me desmotivar, e eu acreditaria
nelas, também não gosto de criar expectativas nos outros, porque depois ficam
nos pressionando a dar um bom resultado, eu tenho muito medo de decepcionar as
pessoas.
O ensino e os projetos que você teve acesso no IFRN ajudaram de alguma
forma a ser selecionada?
Totalmente. As aulas de inglês
com a professora Valeska Rocha da Silva sempre foram maravilhosas e produtivas.
Mas, o que mais me deixou confiante, que me fez ver que eu era capaz de
conversar em inglês sem medo foi o contato que tive com a professora Patrícia
Tenório, cidadã americana, filha de um diplomata da ONU, que esteve por três
meses como voluntária do NAPNE Santa Cruz. Ela me mostrou um pouco da cultura
americana e como eu poderia melhorar o meu Inglês. Quanto aos projetos, posso
dizer sem dúvida alguma, que se não fosse a Capacitação básica em LIBRAS,
projeto de inclusão do NAPNE, eu não teria sido uma Jovem Embaixadora.
Posso dizer que as aulas de
História que tive aqui no IF não foram apenas aulas, estavam nos ensinando a
sermos seres humanos melhores. Assim como todos os nossos professores que não
ministram só aulas acadêmicas, eles nos formam como seres humanos. E eu só pude
perceber isso, ter a certeza, depois que estive em um país de "primeiro
mundo".
Participar do Núcleo de Inclusão
e do projeto de Libras me mudou como ser humano, foi quando eu passei a ter um
olhar para o “outro” e também passei a me conhecer melhor, entendi que é
importante dedicar um pouco do meu tempo aos outros e não só a mim mesma.
O Programa Jovens Embaixadores mudou de alguma forma os seus planos
para o futuro? Se sim, como?
Com certeza. Eu cito o que Simon,
um dos primeiros jovens embaixadores do programa, que hoje trabalha na
Universidade de Chicago, disse em Brasília: “nós só sonhamos com o que
conhecemos". Com a experiência, acabamos conhecendo coisas novas que
entram em nossos planos para o futuro. A gente conheceu melhor algumas profissões
como a diplomacia, que eu não conhecia tão bem, como outras profissões que se
encaixam no perfil de um Jovem Embaixador. Com isso, acabamos tendo uma visão
diferente do que queremos seguir no futuro. Ideias começam a aparecer a partir
da vontade de mudar a nossa realidade, pois o que nos torna o que somos é a
capacidade de olhar cada coisa boa de um lugar diferente e querer levar para a
nossa comunidade. Tenho também o plano de voltar a viajar e rever todos aqueles
que deixamos não só nos Estados Unidos, mas em cada estado brasileiro.
*Portal do IFRN - www.ifrn.edu.br
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